Saúde emocional das crianças: descaso ou violência?

Desprezo, autoritarismo, negligência e depreciação também são formas de violência contra as crianças.

O pior é que essas atitudes são acentuadas quando usadas sobre a pessoa que temos a responsabilidade de educar, proteger e transmitir afeto.

Pode soar estranho e inapropriado, porém muitos desses mal atributos estão presentes em relacionamentos entre pais e filhos.

É muito provável que você já deva ter presenciado pais indiferentes com os sentimentos de seus filhos.

Alguns pais julgam e disciplinam seus filhos com base somente no comportamento impróprio da criança. O correto seria analisar o que ocorreu para ela manifestar seu mal comportamento.

As crianças tem muitos sofrimentos de ordem emocional e costuma manifestá-los previamente através de comportamentos e não por palavras.

Isso acontece porque elas ainda não conseguem expressar o que sentem e porque também não tem certeza do que estão sentido.

Veja esses 4 aspectos que podem desencadear o sofrimento emocional das crianças:

1. Herança genética

Quem nunca presenciou filhos de uma mesma família, criados da mesma forma, pelos mesmos pais, e que reagem de formas diferentes aos eventos estressores?

Isso acontece porque apesar de herdarem características mentais e físicas dos pais (que podem ser positivas ou negativas), os filhos terão particularidades, atributos únicos, e também sentimentos ligados ao cotidiano dos relacionamentos.

Pais não negligentes e mais esclarecidos, quando percebem esse tipo de situação, agem de forma diferente com cada um dos filhos.

Não é amar nem privilegiar a um mais que ao outro. Se trata de ter a sensibilidade para perceber a diferença entre as necessidades de cada criança.

Uma pode precisar de mais manifestação de carinho, por exemplo. Já a outra pode requerer mais tempo, enquanto que um terceiro necessita de palavras positivas ou de afirmação.

Descaso ou violência: como você tem cuidado de seus filhos?

2. Má qualidade da vida afetiva

A saúde mental de um adulto tem muita relação com a qualidade do afeto que recebeu na infância. Exemplos são os abraços, beijos, carinhos, elogios, incentivos, respeito na maneira de falar, atenção, o ouvir e o modo de se comportar com o filho, entre outros.

Muitos adultos hoje lutam contra as consequências negativas que foram trazidas da infância.

3. Falta de equilíbrio

Se por um lado os pais “ditadores” trazem problemas para a vida adulta da criança, a mesma verdade se aplica aos pais “liberais”.

Nos lares ditatoriais, a violência pode se manifestar com abusos, como a proibição de pensamentos e sentimentos da criança ou ordenando que ela sempre fique quieta.

Já nos lares liberais, a violência é por negligência. Os pais permissivos não estabelecem limites e deixam a criança decidir o que pode e o que não pode fazer.

Colocar limites nos filhos é amá-los, é se interessar pelo bem estar deles. O jovem que vem de um lar muito liberal pode ter dúvidas, de forma consciente ou não, sobre ser ou não realmente amado.

Na Bíblia, um livro milenar, existem textos atuais sobre esse assunto. Na carta de Paulo aos Colossenses, no capítulo 3, e no verso 21, há uma advertência aos pais radicais: “Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados.”

Pais sem autocontrole emocional, que explodem e se irritam facilmente com os filhos, podem produzir em seus filhos sentimentos de solidão e desânimo. Esses dois sentimentos são a base emocional para o surgimento da depressão.

Leitura recomendada: Depressão em Crianças

Muitos pais acreditam que provendo casa, comida e estudos para seus filhos, já estão oferecendo à eles tudo o que eles precisam. Estão enganados.

As crianças têm necessidades emocionais, e a falta de afeto gera sofrimentos tão difíceis de suportar como aqueles experimentados pelas pessoas adultas.

Por outro lado, a disciplina é necessária, independentemente do ambiente e situação. Falhas que são passadas por alto, também representam negligência, pois ceder a um ato errado na infância prepara o caminho para outros erros.

Os maus hábitos são mais fáceis de serem formados do que os bons, porém são mais difíceis de serem abandonados.

Descaso ou violência: como você tem cuidado de seus filhos?

4. Negligenciar os sentimentos das crianças

Certa vez uma criança irritada disse ao seu pai: “não gosto do meu tio!” Esse tio era rabugento. O pai dele, sem controle emocional, ficou irritado com o filho e insistiu que ele devia gostar do tio.

Ao repetir: “Mas eu não gosto do meu tio!”, o pai lhe deu algumas palmadas e, chorando, a criança disse: “Tá bem, papai, então eu gosto do titio!”. O pai, então, o abraçou e o beijou.

O que o pai ensinou para essa criança, negligenciando seus sentimentos?

  • Que ele gosta de crianças mentirosas;
  • Que, quando ela fala a verdade, apanha, mas quando mente ganha abraços e beijos;
  • Que o pai quer que ele fale o que o pai quer ouvir e não o que ele tem a dizer sobre o que sente;
  • Que os sentimentos dele não têm valor e que o pai estava interessado em agradar somente ao seu irmão (o tio do garoto), em vez de compreender e acolher seu filho.

Quais seriam as atitudes corretas para esse pai adotar?

  • Ouvir o que a criança tem a dizer;
  • Deixá-lo expressar seus sentimentos;
  • Ajudá-lo a compreender que, mesmo tendo o direito de sentir o que está sentindo, deve respeitar as pessoas e tratá-las com cortesia, sem fingimentos.

Nossos filhos não sentem o que sentimos, mas uma criança que tem os sentimentos e desejos controlados, aprende que os pais só se interessam quando ela não está sendo ela mesma.

Esse pensamento gera raiva carregada de autodefesa. Sentir raiva dos pais é sempre ameaçador para uma criança. Assim, para dispersar essa ameaça, a maioria das crianças cria uma falsa identidade para agradar a seus pais.

As crianças de temperamento mais fortes, no entanto, se rebelam e intensificam sua raiva.

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Soluções

Os pais devem compreender a importância do impacto das palavras e atitudes dirigidas aos filhos, pois elas constroem ou destroem, animam ou deprimem, dão noção de valor pessoal ou de autodesprezo.

Recomendações aos pais ou aos responsáveis pelas crianças:

  1. Seja honesto com a criança. Não minta.
  2. Não prometa o que não fará, só para “acalmar” a criança.
  3. Anime-a de que ela pode se auto-controlar.
  4. Evite atos agressivos, decisões impulsivas e disciplinas exageradas.
  5. Investigue a causa da dificuldade da criança e entenda que pode não ser fácil e nem rápida a solução.
  6. Ensine pelo exemplo. Analise se sua forma de lidar com as emoções negativas e dolorosas são saudáveis.
  7. Use palavras simples, compreensíveis e confiáveis.
  8. Não faça comparações com outras crianças.
  9. Não dê tarefas fáceis ou difíceis demais para a idade da criança.
  10. Não diga palavras como: “Você não aprende! Quantas vezes já lhe falei isso!” Diga: “Você pode aprender! Você é legal, mas isso que você fez não é legal!” O hábito de criticar sempre o erro ou a limitação da criança faz com que ela creia que ela não tem conserto. Ela pode perder a esperança de melhorar.
  11. Valorize a criança pelos esforços feitos, mesmo que pequenos, ou ainda que tenha feito apenas  parte do que lhe foi pedido. Ao falar sobre o que ela deixou de lado, não a deprecie. Reforce o pedido, explicando como fazer.
  12. Passe tempo com a criança, preenchendo necessidades pessoais dela (atenção, afeto, brincadeiras, elogios, etc).
Descaso ou violência: como você tem cuidado de seus filhos?

Seus filhos são sua herança. Cuide bem delas. Elas irão lembrar disso quando forem adultas e irão também perpetuar seus bons ensinos.

Um forte abraço e até a próxima!

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