Dieta da proteína: como funciona, vantagens e desvantagens

Você se lembra do artigo anterior, onde falamos sobre as dietas da proteína? Se não leu, clique aqui por favor. Neste texto aqui vamos continuar o assunto.

Pense comigo nesta pergunta: há um preço que temos que pagar para que escritores de livros best seller, médicos e a indústria, fiquem cada vez mais ricos? Cuidado. Neste cenário há uma “negociação”, onde você entra com sua saúde, em troca da perda de peso.

É impressionante as milhares de pessoas que adotam essa dieta da proteína todos os anos para perderem até 20 quilos em 30 dias. Para entendermos como acontece esse processo de emagrecimento, é preciso primeiramente conhecer um pouco sobre as proteínas.

Para que servem as proteínas?

A perda óssea, osteoporose, artrite, pedras nos rins, disfunção imune, promoção do câncer, baixa energia e problemas de saúde em geral, são as conseqüências reais da overdose de proteínas consumidas hoje.

proteinas7Proteína serve como matéria-prima para construir novos tecidos e reparar os danificados, além de sintetizar hormônios.

Sem proteína suficiente, o seu corpo estaria em apuros. No entanto, há uma grande probabilidade disso nunca acontecer. Aliás, até hoje, não foi registrado que alguém estivesse com carência de proteínas.

Proteína ou albumina consumida além das nossas necessidades é um perigo para a saúde, sendo algo tão problemático quanto o excesso de gordura e colesterol.

Isso porque gera uma sobrecarga constante sobre o fígado e os rins, por causa dos resíduos nitrogenados (explico isso mais adiante aqui neste texto) que, normalmente, o corpo tenta descartar o mais rápido possível.

Então, qual a quantidade de proteína que você precisa?

Cerca de 20 a 30 gramas de proteínas, vindo das plantas e vegetais, atenderia facilmente sua necessidade diária total.

As pessoas que vivem nas sociedades asiáticas rurais, consomem cerca de 40 a 60 gramas de proteínas, que vem do amido (principalmente arroz) com legumes.

Aqui no Brasil, assim como em todo o ocidente, as principais fontes dos alimentos são de origem animal, como carne e produtos lácteos. Eles fornecem cerca de 100 a 160 gramas de proteína por dia.

Uma pessoa que faz a dieta hiperproteica, como a Atkins, Paleolítica ou Dukan, pode consumir de 200 a 400 gramas por dia, que vem das variedades de carnes e laticínios.

proteinas5Uma vez satisfeitas as necessidades do corpo, em seguida, o excesso de proteína deve ser removido. O fígado converte o excesso de proteínas em ureia e outros produtos de degradação contendo nitrogênio. Então, finalmente são eliminadas através dos rins, como parte da urina.

Felizmente, os rins têm uma grande capacidade de reserva. Os efeitos da perda de um quarto de sua função, tem pouca conseqüência para pessoas saudáveis.

No entanto, as pessoas que já perderam a função renal por outras razões como acidentes, doação de um rim, infecções, diabetes e hipertensão, podem sofrer consequências sérias, inclusive com risco de vida.

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“Pedra” nos rins

Em todo o mundo, a quantidade de pessoas com “pedras nos rins” cresce em igual proporção ao aumento do consumo de proteína animal (incluindo produtos lácteos).

Mais de 90% das pessoas que têm pedras nos rins consomem muita proteína. Essas pedras são formadas principalmente de cálcio, que vêm dos ossos. Então, seguir uma dieta equilibrada é a melhor maneira de prevenir as “pedras nos rins”.

Osteoporose

A osteoporose é provocada por vários fatores que nós podemos controlar. Entretanto, o mais importante deles é o alimento que comemos, especialmente a quantidade de proteína animal e os alimentos ricos em ácido.

osteoporose1Os alimentos ricos em ácidos são as carnes, aves, peixes, frutos do mar e queijos duros (o queijo parmesão é o mais ácido de todos os alimentos frequentemente consumidos).

Este ácido deve ser neutralizado pelo corpo. Para isso, materiais alcalinos são liberados a partir dos ossos para neutralizar os ácidos.

Frutas e vegetais são alcalinas. Então, uma dieta rica nesses alimentos vegetais irá neutralizar os ácidos e preservar os ossos.

O consumo de apenas 10 gramas a mais da necessidade diária de proteína, aumenta a perda de cálcio pela urina, diariamente, para 16 mg.

Por exemplo, os habitantes dos EUA, Canadá, Noruega, Suécia, Austrália e Nova Zelândia têm as mais altas taxas de osteoporose. As menores taxas estão entre as pessoas que comem o menor número de alimentos de origem animal (essas pessoas também consomem menos cálcio), como as pessoas da Ásia e da África.

Enxofre

A qualidade das proteínas que consumimos são tão importantes como as quantidades. Uma diferença importante entre as proteínas de origem animal e a vegetal é que as proteínas de origem animal contêm grandes quantidades de enxofre.

Apesar de ser essencial que os aminoácidos contenham enxofre para a nossa sobrevivência, o excesso dele coloca uma carga crítica no nosso corpo e diminui a nossa saúde das seguintes formas:

1) Aminoácidos, como o nome indica, são ácidos. Eles contém enxofre, que é o ácido mais forte entre todos. Eles se decompõem em ácido sulfúrico forte. O excesso de ácido, tal como discutido acima, é uma das principais causas de perda de osso, conduzindo à osteoporose e à formação de “pedra nos rins”.

2) Homocisteína é um aminoácido produzido pelo corpo. As pessoas com alimentação rica em carnes possuem alto nível deste aminoácido. Estes altos níveis possuem relação com o aumento do risco de doença coronariana, de acidente vascular cerebral, da doença vascular periférica, da trombose venosa, e do prejuízo cognitivo e problemas mentais ainda piores, como demência, doença de Alzheimer e a depressão.

Hiperinsulinemia e resistência à insulina

Os defensores das dietas altamente proteicas explicam que a razão das pessoas engordarem não são as gorduras que comem, mas sim, a hiperinsulinemia (que são os altos níveis de insulina no sangue) e resistência à insulina (quando as células do nosso corpo respondem cada vez menos à presença de insulina).

pancreas1A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas. Ele permite a entrada de glicose nas células para serem transformadas em energia depois que comermos.

Algumas das funções da insulina incluem estocar gorduras nas células adiposas e removê-las da corrente sanguínea, e estimular a transformação de glicose em gordura no fígado. Assim, níveis elevados de insulina seria uma das causas da obesidade.

Dessa forma, comer açúcares simples (incluindo muitas frutas), carboidratos e farinhas, estimulam a produção e liberação de insulina.

Uma das maiores distorções da verdade, promovida por defensores das dietas hiperproteicas, é a de que a proteína provoca pouco ou nenhum aumento na produção de insulina.

No entanto, pesquisas mostram exatamente o oposto. Quando alimentados em quantidades iguais (calorias), a carne bovina aumenta a insulina mais do que massas integrais; queijos mais do que massas brancas; e peixes mais que mingau.

A resistência à insulina é uma das razões para a hiperinsulinemia.

Esta condição está fortemente associada com a obesidade. Em geral, quanto mais gordo você se tornar, mais resistente à insulina você vai estará.

Portanto, o tipo de alimento que nós comemos é que nos torna mais resistentes à insulina.

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Como reduzir a resistência à insulina

Há duas maneiras saudáveis para reduzir a resistência à insulina e conseguir níveis mais baixos de insulina:

1) Adotar uma dieta pobre em gorduras e rica em carboidratos complexos. Estes alimentos apresentam um índice glicêmico mais baixo do que os açúcares simples. Desta forma, a sua ingestão contribui para a saciedade e ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue.

2) A prática frequente (eu disse frequente) de exercício físicos.

Em 1992, James Barnard publicou um artigo sobre os efeitos de uma dieta rica em carboidratos complexos e exercícios físicos, na hiperinsulinemia. Após três semanas, os níveis de insulina em diabéticos do tipo adulto e pessoas com resistência à insulina diminuíram para um terço. Este estudo também demonstrou uma redução significativa na pressão arterial, triglicerídeos, colesterol e IMC (índice de massa corporal) em peso.

As dietas de alto consumo de proteínas e a “cetose”

As duas dietas de alto consumo de proteínas mais populares hoje são:

a) Aquelas que limitam a ingestão de calorias, fazendo com que o organismo desenvolva um estado metabólico conhecido como cetose.

b) Aquelas que são rigorosas em limitar a ingestão de determinados alimentos ou ingredientes.

A “dieta cetogênica” induz o organismo a produzir cetonas. Isso ocorre através da restrição severa da ingestão de carboidratos, permitindo a ingestão de gorduras e proteínas sem limites.

Com uma ingestão insuficiente do principal combustível do corpo (os carboidratos), o corpo utiliza “combustível” das gorduras de alimentos que se ingere e da gordura corporal. cetona1Os subprodutos da degradação dessas gorduras são substâncias ácidas chamadas de cetonas.

E há uma coisa curiosa aqui: o cheiro de acetona (sim, aquele que sentimos quando usamos removedores de esmaltes) é muito comum nas pessoas que fazem este tipo de dieta. Dizemos que uma pessoa nestas condições, está em cetose.

A cetose é relacionada à perda de apetite, náuseas, fadiga e hipotensão (pressão sanguínea mais baixa). É a chave para o sucesso da dieta, pois faz você perder o apetite, e o organismo usa os estoques de gordura para gerar energia.

A verdade sobre essas dietas da moda é que as pessoas podem perder temporariamente grandes quantidades de peso, e pode até mesmo reduzir o seu o colesterol, açúcar e triglicérides no sangue, mas o método não é saudável.

Como acontece o processo de emagrecimento?

O consumo de proteínas gera saciedade, portanto, você ingere menos calorias. A perda de peso acontece quando o organismo passa a usar a gordura do próprio corpo para gerar energia.

Por um período de tempo curto, de um a dois meses, essa dieta pode funcionar e estimular a perda de peso.

Vantagens e desvantagens

Depois de mostrar que no longo prazo há problemas relacionados à dieta das proteínas, quero que fique claro que os resultados são efetivos. Sim, você conseguirá emagrecer, mas é praticamente impossível manter essa dieta por muito tempo sem ocasionar danos para seus rins e seu fígado.

Quando a proteína é transformada em glicose no fígado, acontece uma sobrecarga no órgão. Uma dieta sem carboidratos causa carência de fibras, vitaminas essenciais e minerais.

Também existe a dieta super proteica, que em vez de abolir a ingestão de carboidratos, somente reduz o seu consumo. Mas, como referido nesse outro artigo chamado Emagrecer Comendo Carboidratos (clique aqui para ver), não é a ingestão de carboidratos que fará seu peso aumentar.

Portanto, se você decidir começar com essa dieta, busque muitas informações sobre como fazê-la de forma responsável e consciente.

Entendo que estar acima do peso não é somente uma questão de saúde. Quando a auto estima, o desenvolvimento pessoal e profissional, o convívio social e familiar são afetados, a busca por resultados rápidos se tornam uma prioridade.

Se essa dieta faz sentido para você, tenha consciência que até mesmo com resultados imediatos, novos hábitos saudáveis precisarão fazer parte de sua vida. Caso contrário, todo o seu esforço será em vão.

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Emagrecer de forma saudável

Me perdoe a franqueza, mas não existe nenhum milagre para emagrecer (de forma saudável).

O segredo do emagrecimento saudável está nos bons hábitos de longo prazo, ou seja, adote um estilo de vida equilibrado, pratique exercícios físicos diários e coma frutas e vegetais em abundância – em sua maioria elas são alcalinas e preservam a saúde dos ossos, além de evitarem as indesejadas “pedras nos rins”.

habitossaudaveis1

Coma raízes, como a mandioca e o inhame, que são suficientes em nutrientes, incluindo proteínas. Os amidos ou vegetais irão fornecer a quantidade necessária para as suas necessidades de proteína e aminoácidos essenciais.

A batata é uma grande fonte de nutrição. Ela pode fornecer todas as proteínas e aminoácidos essenciais para as crianças, principalmente em tempos de escassez de alimentos.

Elimine ou reduza o consumo de alimentos gordurosos, como batatas fritas, margarinas, maionese e molhos prontos. Elimine ou reduza também as bebidas açucaradas como sorvetes, refrigerantes, sobremesas e até adoçantes.

Faça o mesmo com as massas brancas e refinadas; embutidos e enlatados como linguiças, salsichas, fast foods e até mesmo produtos light ou que se dizem “sem gorduras”.

Considerações finais

Em resumo, coma tudo o que a natureza te oferece e sinta os benefícios de ser curado pelo alimento. Dessa forma, tanto as gorduras como a maioria das doenças, não acharão espaço em sua vida.

Grande beijo e até a próxima!

Aurideia Vasconcelos


Referências:

Diabetes Care 16: 1459, 1993, Am J Clin Nutr 73: 878, 2001, Am J Cardiol, 69: 440, 1992
Chittenden, R. H. (1905). Physiological economy in nutrition, with special reference to the minimal protein requirement of the healthy man. An experimental study. New York: Frederick A. Stokes Company.
Maurer M. Neutralization of Western diet inhibits bone resorption independently of K intake and reduces cortisol secretion in humans. Am J Physiol Renal Physiol. 2003 Jan;284(1):F32-40.
Remer T. Influence of diet on acid-base balance. Semin Dial. 2000 Jul-Aug;13(4):221-6.

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